Preá, meu amor.

Preá, meu amor.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Havia uma esperança.


Ele estava desesperado. Não tinha um real no bolso. Em casa não havia o que comer. As dez crianças já estavam acostumadas ao jejum. Sem muita esperança, pegou o carrinho de mão, a pá e saiu. Batia em alguns portões perguntando se alguém queria tera preta para o jardim. Já antevia a negativa, mas enquanto andava procurava não pensar nos graves problemas deixados em casa. Das dez crianças que criava, cinco eram sua prole, as outras cinco eram herança de uma irmã que falecera. Sua esposa trabalhava de diarista, mas muitos dias não tinha onde trabalhar, por isso ganhava pouco. Ele estava desempregado, havia já um longo período. Tinha 40 anos e não aparentava mais que isso, apesar do sofrimento, mas seu aspecto inspirava piedade. Seu caminhar era lento e compassado. Há muito que a alegria deixara de viver em seu coração. Até seu relacionamento com sua esposa não tinha mais o fogo dos primeiros tempos. Às vezes se flagrava pensando que em outros tempos lhe parecia que seu amor pela esposa era eterno e permanente e que, talvez, seria uma das poucas coisas da qual ninguém poderia privá-lo. No entanto, agora, se dava conta de que nem esse prazer possuía mais. Isso fazia com que se sentisse cada vez mais derrotado. Continuou sua penosa caminhada. Passou-lhe pela cabeça idéias ruins, mas uma força maior o impelia a seguir. No caminho encontrou um dos filhos que lhe perguntou aonde ia. Respoudeu-lhe que não sabia, que procurava serviço para poder comprar pão. O garoto seguiu para o barraco onde viviam, numa favela fervilhante de marginais. Esse fato o amedrontava. Não queria que suas crianças se envolvessem com marginais. Mas que opção teria? Não poderia sair dali. Se fosse para outra favela, a única mudança seria a de barraco e de região, porque a situação seria a mesma. Não! Não! Era melhor não pensar! Já tinha muito com que se preocupar. Um casal passou a seu lado. Gente simples, mas bem vestidos. Abraçados. Pareciam felizes. O amor estava estampado em seus semblantes jovens. Lembrou-se de sua juventude, quando tudo lhe parecia belo. Nunca imaginara quão difíceis dias teria que enfrentar.Não frequentara a escola por muito tempo.Largara tudo no 3º ano fundamental, o que não lhe deu subsídio algum para uma melhor sobrevivência, por isso, agora, ao se deparar com o jovem casal, percebeu que também a ilusão da juventude não lhe pertencia mais.Restava-lhe apenas uma resignação insossa às vicissitudes da vida. Estava subindo uma rua estreita de um conjunto habitacional. Imaginava como seria bom se uma daquelas casas fosse sua. Se sentiria um verdadeiro rei. Não havia ninguém na rua. Eram dez horas da manhã e o sol ameaçava aquecer a terra, mas algumas nuvens marotas insistiam em não permitir. Seus passos lentos se detiveram diante de um portão. Resolveu bater. Demoraram a atender. Afinal, apareceu uma mulher. À primeira vista pareceu-lhe desconfiada e antipática. Teria uns quarenta anos. Havia um carro na garagem. O jardim era pequeno. Ele ofereceu terra à senhora, mas ela disse que não queria. Ele insistiu, mas ela ficou firme em sua decisão. Ele sentiu-se analisado por ela. Em poucas palavras tentou contar-lhe parte de sua vida, mas não adiantou. Resolveu então continuar sua penitência. Mal dera alguns passos e ela chamou-o. Parou. Olhou para ela. E então, aconteceu o que ele não esperava. Aquela mulher que antes pareceu-lhe antipática, agora lhe oferecia alguns pacotes com alimentos. Arroz, açúçar, óleo, feijão, enfim, comida para praticamente um mês. De seus olhos escorreram duas lágrimas. Uma emoção muito forte tomou conta de seu ser. Naquele momento ele se sentiu tocado por uma força superior. Agora ele sabia que havia uma esperança. Hoje ganhara alimentos, mas, amanhã ganharia um emprego e recuperaria sua dignidade.
Teresa Ibañez.

Um comentário:

  1. Esperança é uma bela palavra.Sempre podemos tê-la e o melhor, também a podemos dar.
    E você ja reparou como é bom poder dar esperança para alguém?
    Um bonito conto, gostei.
    Siegmar

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